“Sou da ala da modelagem criativa.” Assim se define a paulista Ozenir Ancelmo, professora da Fundação Álvares Penteado (Faap), expoente na técnica do moulage, ou modelagem, no Brasil. Ozenir esteve em Goiânia na semana passada, quando conversou com O POPULAR. No centro da questão, uma discussão que envolve cada vez mais o universo dos criadores da moda nacional: a importância da modelagem para realçar o glamour da ideia dos estilistas.

Graduada em Educação Artística pela Universidade Santa Cecilia, Ozenir frequentou por um ano a École de La Haute Couture de La Chambre Syndicale de Paris, onde se estabelecem as regras da modelagem da alta-costura. Também é atuante no campo da criação, através do Atelier da Z (a marca O Cazaco privilegia o corte de alfaiataria masculina e a Veztida é moda feminina, com apelo mais comercial), Ozenir se vale do nome da sua grife masculina para realçar a abrangência da moda. “A moda é como um casaco, que envolve”, define.

Entre as criações de Ozenir, destacam-se seus trabalhos para a área de artes cênicas. Um deles foi o figurino que ela assinou para o espetáculo Dois Sopros, com a bailarina Juliana Moraes, e a modelagem dos casacos, criados pelo estilista Marcelo Sommer, que Arnaldo Antunes veste no seu show mais recente. Também participou da equipe que desenhou os figurinos da montagem brasileira do famoso Balé Triádico da Bauhaus, de 1922, um projeto do Senac-SP.

Embora se coloque na ala dos modelistas criativos, Ozenir não defende uma tese separatista – estilista versus modelista. Pelo contrário. Ela entende apenas que “o estilo, sem uma boa modelagem, não se sustenta”.

As duas funções se completam, até porque, mais adiante, Ozenir diz: “O modelista é um construtor. Torna o desenho, a ideia, uma realidade, mas nada o impede que ele possa ter uma ideia”, diz.

O domínio da modelagem e da costura leva ao estilo. Essa, por sinal, é também a realidade de Ozenir. Começou no teatro, atuando e criando os próprios figurinos, ainda em Santos. “As pessoas queriam as minhas roupas. Percebi que poderia viver disso”, recorda-se.

Criadora de roupas

O tríptico (criação, modelagem e costura) determinou a evolução da mulher que gosta de dizer que “cria roupas”. Após ter graduado em Educação Artística, mas sempre se valendo dos ensinamentos do teatro, da espacialidade que o figurino ganha no palco, Ozenir investiu também no domínio técnico. “É preciso sempre investir mais, aprimorar mais. É um erro achar que a base, o molde, está pronta”, ensina.

A formação de Ozenir coincide com o período de maior visibilidade da moda brasileira, a década de 1990. “Mas pertenço a uma geração em que as pessoas riam quando dizia que fazia moda”, diz. Hoje, embora a moda continue trabalhando com os mesmos conceitos de efemeridade, a compreensão é outra. O que mudou: “Percebeu-se que moda está em tudo”, diz ela, ressaltando que até aqueles que não têm estilo se enquadraram dentro de um segmento.

Ao mesmo tempo em que se chegou à compreensão de moda como atitude, a geração de estilistas, que teve o hoje quarentão Alexandre Herchcovitch à frente, se apegava à ideia e foi adquirindo aperfeiçoamento da costura e modelagem com a prática. “Para desconstruir, primeiro é preciso saber construir”, orienta Ozenir.

Já que o Brasil está com a identidade em afirmação no cenário internacional, Ozenir crê que a velha tese de que aqui se copia muito, reproduz o que vem de pronto de fora com certa facilidade, tende a diminuir. Mesmo que o “rápido” continue sendo uma realidade da sociedade globalizada.

O surgimento de novas faculdades de moda no Brasil, embora acarrete outro problema, o excesso de novos criadores lançados todo ano, tende atenuar a realidade da cópia. “As universidades são importantes nesse processo, como o Senac foi para o segmento de modelagem”, refere-se à instituição de São Paulo, que, na década de 1990, lançou um curso profissionalizante de modelagem.

Blog O Popular

por Sebastião Vilela Abreu  Ver Matéria

Weimer Carvalho